In Memórias
Monólogos numa JanelaTo see a world in a grain of sand, and a Heaven in a wild flower, Hold Infinity in the palm of your hand, and Eternity in an hour. Blake by Rake
sexta-feira, janeiro 27, 2012
quinta-feira, maio 20, 2010
Nem a comida de berço será a Revolução!
- E porque nesta altura o que nos resta é apertar as mãos ao peito e sonhar, senta-te e escreve ... o poder já é teu.
- E a Revolução?
- Bem ..., nem a comida de berço será a Revolução!
"se sienta a la mesa y escribe
«con este poema no tomarás el poder» dice
«con estos versos no harás la Revolución» dice
«ni con miles de versos harás la Revolución» dice
y más: esos versos no han de servirle para
que peones maestros hacheros vivan mejor
coman mejor o él mismo coma viva mejor
ni para enamorar a una le servirán
no ganará plata con ellos
no entrará al cine gratis con ellos
no le darán ropa por ellos
no conseguirá tabaco o vino por ellos
ni papagayos ni bufandas ni barcos
ni toros ni paraguas conseguirá por ellos
si por ellos fuera a la lluvia lo mojará
no alcanzará perdón o gracia por ellos
«con este poema no tomarás el poder» dice
«con estos versos no harás la Revolución» dice
«ni con miles de versos harás la Revolución» dice
se sienta a la mesa y escribe"
Juan Gelman "Confianzas" Relaciones, 1963.
sábado, abril 03, 2010
I Go To Sleep
I dream you are there with me
Though you are far away
I know you'll always be near to me
I go to sleep
And imagine that you're there with me
I go to sleep
And imagine that you're there with me
I look around me
And feel you are ever so close to me
Each tear that flows from my eye
Brings back memories of you to me
I go to sleep
And imagine that you're there with me
I go to sleep
And imagine that you're there with me
I was wrong, I will cry
I will love you till the day I die
You were all, you alone and no one else
You were meant for me
When morning comes again
I have the loneliness you left me
Each day drags by
Until finally my time descends on me
I go to sleep
And imagine that you're there with me
I go to sleep
And imagine that you're there with me
quarta-feira, dezembro 30, 2009
Nem por sonhos ...
“[...] Há muito tempo, quando se estreou o filme A Quadrilha Selvagem, de Sam Peckinpah, houve uma jornalista que levantou a mão na conferência de imprensa e perguntou num tom francamente indignado: «Por que razão insiste em mostrar tanto sangue nos seus filmes?». Ernest Borgnine, um dos actores presentes, encarregou-se de responder, com um ar perplexo. «Minha senhora, alguma vez viu alguém levar um tiro e não deitar sangue?». [...]
«E que farei se Miu não me aceitar?», escrevera Sumire quase no fim do primeiro texto. «Pensarei nisso quando chegar a altura. Viram alguma vez alguém levar um tiro e não ficar cheio de sangue? Vou afiar a minha faca, [...]
Veio-me à memória uma coisa que ela deixara escrito: « Então o que deve fazer uma pessoa se quiser evitar a colisão? É difícil? Não, nada disso. Se encararmos a questão de um ponto de vista puramente lógico, é fácil. A resposta está nos sonhos, para de lá nunca mais sair. Passar o resto da vida a sonhar. [...] Acabámos por nunca descobrir o que acontecera a Sumire. Como dizia Miu, evaporara-se como fumo. [...] A percepção não passa da soma dos nossos mal-entendidos.”
Gostava de saber o que nós, comuns mortais, fazemos aos nossos sonhos. Será que os guardamos na mesma gaveta que os papeis que já não interessam, mas que apesar de não termos a coragem de os deitar fora vão-se acumulando e acumulando no tempo e espaço? Acho que sonhar é assim. Nunca é fácil o seu processo, mas quando se inicia vai acumulando e acumulando. Nunca sei muito bem o que esperar dos meus sonhos. Sinto-me tal Alice no País das Maravilhas. Vou de história em história, caminhado pelas aventuras do desconhecido, desvendado enigmas, concertando existências, mas sem nunca sair de dentro do espelho do meu imaginário. Gostava que na vida real as certezas habitassem com a mesma leveza que nos sonhos. Penduro cada sonho na sua respectiva corda e coloco-os a secar ao sol. De vez em vez atiro-me de cabeça em cada um deles. Não é o Adormecer que custa, é o Acordar que mata. Coexistem em nós, fatalmente ligados, o que sabemos, o que não sabemos e o que imaginamos. Por uma questão de conveniência, a maioria das pessoas colocam barreiras entre os três. Nos sonhos não é preciso estabelecer grandes distinções entre as coisas pois cada sonho exige uma coisa diferente de nós. Não é que com isto possamos perder uma perna ou um braço cada vez que sonhemos, mas para cada sonho não realizado o efeito em nós é o mesmo que perder um membro, aliás é muito mais interior, doloroso e demorado. A ser assim, acabarei, lenta mas inexoravelmente, por me perder. Todas as manhãs do mundo, todos os crepúsculos, acabarão por me despojar, pedaço atrás de pedaço, da minha identidade, e não tardará que a minha própria existência se dilua na corrente do tempo e que eu acabe por ficar cada vez mais reduzida. Provavelmente muitos de voces vão achar que tudo isto não passa de um cliché ou um deja vú, mas isso é porque um dia sonharam ser alguém e hoje ainda não o são.
"A percepção não passa da soma dos nossos mal-entendidos.”