sábado, janeiro 06, 2007

Amor Divino

"[...] Tocada por uma experiência excepcional do Espiríto Divino, que, na sua perplexidade, interroga: «Porquê a mim, que nunca acreditei nessas coisas; porquê agora, que já tinha tudo tão arrumado na minha vida?» Só me ocorre a pergunta, algo inesperada nestas circunstâncias e que ouvi uma vez a uma paciente com uma doença grave: «Porque não a mim?». Porque aí também buscava um sentido.
Intuí que as experiências de vida lhe ensinam o que aprende nesta trajectória entre o céu e a terra, isto é, a lidar com as nossas emoções e pensamentos e também com as dos outros. É a aprendizagem da impermanência das coisas e pessoas, do desapego, do perdão (a si e aos outros), que não há os bons e os maus e a luta entre eles, mas que a luta se faz dentro de nós. Como fazer essa aprendizagem pode quase resumir-se a manter ao longo da vida algumas características que identificamos como o ser criança (autenticidade, curiosidade, espiríto de brincadeira), juntando-lhe a responsabilidade do adulto. Em resumo, que o Amor (em sentido lato) é a arte de prolongar o efémero, que é esse estado absoluto, mas não eterno, ao nível humano. [...]
Como se a vida nos proporcionasse o que «precisamos ou merecemos» para sermos mais e melhores, como se fosse esse o sentido que liga as experiências de vida. Como se uma nova definição de espiritualidade (dimensão humana) pudesse ser a consciência de que tudo está ligado por um sentido que nos ultrapassa e que nos leva a tornarmo-nos anjos cínzeos. Estes seriam o grau mais refinado de humanos, cuja matéria, simbolicamente, seria cinza (ainda mundo material, necessário como humano), produto de múltiplas «queimas»
O mundo material que nos vem parar ás mãos, bem como os talentos com que somos brindados, deveria ser «de algum modo lançado no universo de onde proveio». Trata-se também de fazermos o nosso melhor, da nossa responsabilidade, para que o que habitualmente se designa por destino se revele, pois ao ser «levada(o) pelas sementes do melhor em mim mesma(o) toco os meus próprios limites». « Auto-estima não é narcisimo», «Porque somos atraídos por pessoas que nos magoam?» e «Nós é que atraímos o que nos acontece». Na realidade é muito díficil encontrar um amor em que apeteça, espontaneamente, dizer, brotando da boca, «Amo-te», em que esta palavra traduza a ternura e o desejo simultâneos e intrisecamente ligados. Mais díficil ainda seria encontrar o amor divino sentido pelos místicos, cuja possível «marca» de entrega seria pronunciar «faz de mim o que quiseres», pois existe a paz e a alegria de se saber aceite tal e qual como se é.
Ao «dar o melhor de nós mesmos» a alguém é já amar verdadeiramente e não simplesmente apreciar a companhia de alguém, pois seria «olhá-lo tal como é, independetemente do lugar que ocupa no mundo, da forma como orienta a sua vida e do facto de nos ser útil seja em que campo for». Não existe exigência nem «obrigação de renunciar a algo ou alguém e cada um pode usufruir do outro pura e simplesmente pelo que ele é, sem qualquer sentimento de posse ou competição e sentimentos de ciúme que eventualmente surjam são logo resolvidos com sensatez». Seria o Amor vivido sem a tão temida perda de liberdade no compromisso (livremente desejado e aceite) com alguém, tal como «irmãos de sexo oposto ligados por um sentimento de consanguidade», simulacro e antecipação das relações do futuro e do Amor Divino."
... E porque hoje me sinto sozinha
... e da minha solidão sou egoísta.

2 comentários:

JCB disse...

..eis o k sobrou de mim...

JCB disse...

...e renasço como...