domingo, dezembro 17, 2006

Cartas de amor


Escuro, quente, cheiros, memórias, desejos, paisagem, luz das ruas, lencois, almofadas .... almofadas que contam segredos da noite e do amanhecer .. segredos do rio, das pessoas, de ti e de mim. Quem és tu? Não te conheço!... Chamei por ti tantas e tantas vezes, aqueci sozinha o espirito da tua presença vazia. Aqueci a memória das minhas memórias que voaram com o sopro que deixaste na tua ausência. Suspiros de prazer, suspiros de saudade. Onde estás? Perdi-te no pensamento, encontrei-te no coração. Chamei por ti tantas e tantas vezes. Agora estou aqui. E tu? Fui guerreira, fui mil momentos tua, fui karma, fui fado, agora ... estou aqui. Lemos tantas histórias para nos encontrarmos nelas e esquecemos de escrever a nossa. Tentamos perceber o reflexo no espelho das palavras da vida que nos constroem. O tempo não espera por nós e a sua chegada são virgulas de ilusão na história da nossa vida. O tempo dá voltas e voltas para nos apanhar no seu ínicio, para dar sentido à nossa caminhada, para fazer-nos valorizar o nosso inicio ... para fazer-nos regressar, para nos fazer esquecer o voltar por voltar. Voltamos por voltar, regressamos porque queremos! Pedi-te o regresso, assisti à partida. Perdi-me no som das tuas palavras nos ecos dos meus ouvidos. Penetrei no coração de vontade, de desejo ... de inteligência. Aqueci a água, derreti o gelo. Chamei por ti tantas e tantas vezes. Estou aqui. Ergui cidades onde tu não viveste. Fui heroína, mas não me conheceste. O mundo não tem lugar para nós. Somos tão grandes. Maiores que o sonho de criança, de rezas inocentes em leitos de mães com cheiro a rosas. Vamos fugir ... ser maiores e mais altos que tudo. Sermos únicos! Estou farta de lutar em batalhas de nada. Esperar pelo tempo que não vem. Pelo amanha que já deveria ter chegado em forma de cartas de amor. A minha cabeceira não tem palavras escritas, a minha almofada só tem memórias, os meus lençois tem saudade, eu sou apenas alguém no meio do ontem e do amanha ... que nunca mais chega em cartas de amor.

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