segunda-feira, outubro 30, 2006

As palavras que sempre te direi e ... porque ás vezes também chove ...

"Estava aqui sentada na minha cadeira, que por vezes julgo que comanda o mundo, e apeteceu-me escrever-te.
Lembrei-me dos mails que às vezes trocavamos por puros desencontros e vontades que se tentavam acalmar pelas palavras virtuais. Devia ter prolongado momentos assim. Eram simplesmente deliciosos. Discursos até altas horas. Mensagens codificadas em mistérios de conhecimento. Deixares-me recados na minha página. Leitura obrigatória. Ainda o fazes? Ainda te vicias no que eu escrevo? Parecia uma cereja no topo da melhor sobremesa de um casamento ou de um baptizado. Talvez fosse uma refeição dos deuses. Um prato colocado entre Zeus e Afrodite. Olhares cruzados no meio de uma azafama de uma sala cheia de loucura e o silêncio de duas pessoas. Deixo-te ser Zeus se me deixares ser Afrodite!
Reli-te vezes sem conta. Tentei perceber o porquê da quebra do mistério e o começo de questões. Queria aquela excitação ... o conhecimento esvaneceu-se?! Com tanta sede... agora somos "incompatibles". Tinha já tantos pontos à maneira de Hiládio Climaco que não pensei numa derrota assim. É verdade. Não se pode obrigar a ver quem não quer. Mas daí talvez ninguém saiba o que se quer OU quem afinal reside o poder de saber o que é o certo e o errado? Isto faz-me lembrar a Alegoria da Caverna de Platão. O maior texto jamais escrito. Irredubitavelmente o texto mais actual de sempre. É irónico nele estar Sócrates... tantas vezes por nós falado. Ele aparece sempre nos discursos. Presumo que conheças a história...

"Sócrates - Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?

Glauco - Muito mais verdadeiras."

Talvez tivesse sido assim. Vimos sombras erradas um do outro. Talvez agora, que com mais justeza olhamos à realidade, se descubra que não era o que pensávamos ser. Ou ... Talvez tivessemos sido consumidos pela aparência das coisas que nos aconteceram e depois de termos sido libertados e, após saciar a sede do desconhecido e do enigmático, já se pense que nada mais há descobrir e a fantasia das sombras, outrora mistificada e devotada, se tenha apagado. E mesmo que depois de libertado de todo esse mundo por nós criado, como que flutuado em nuvens de algodão e morangos, eu voltasse e te sussurra-se ao ouvido para acreditares em mim ... dares-me a tua mão e voares comigo sem destino e conhecer o mundo onde reside a essência de cada um de nós e abrir-te um desafio?! Quererás libertar-te das sombras por nós criadas? Desejarás manter-te à margem de tudo na incompatibilidade do teu racional? Ou desejarás fazer aquele risco no chão e eu ir contigo?... Desejarás o burro e as três cenouras?!
A escolha ainda reside em nós. A liberdade também ... Sim! Fiz nós no pensamento ...
Se calhar esperava mais magia. Se calhar esperava mais nome, ... menos apelido?! Mais poeta, ... menos arquitecto! Mais gestos, .... menos decisões. Mais voos, ... menos caminhadas. Deixei-me guiar inocentemente, talvez de forma infantil, nas palavras e nas sensações, que talvez sozinha fui criando. Guiei-me nas gotas de chuva. Nas tuas gotas de chuva pelo meu ombro.Tentei não me (des)iludir ... e esqueci-me que podia desiludir os outros. Esqueci o reverso de uma moeda que não podia controlar a queda e controlar o seu destino. Esperei menos coisas banais, mais impulsividade e diferença. Esperei recordações maiores. Mais perenes! Esperei convites absurdos.
Lembro as voltas na rotunda. Tinhas razão. Algum dia haveria-me lembrar do disparate de andarmos ali as voltas. O vaguear no nada, a ver tudo.
Menti-te!... houve alturas que estava nervosa como o raio! Senti borbuletas no estômago! ... senti-me bonita, especial ... divina. Conheci mais de ti ali naquele momento, mais que ao que pensei e que ao que viria a conhecer nos dias seguintes. Depois ter ouvido chover naquele sofa. As conversas ...
É incompativel. Tens razão! É incompatível pensar nestas coisas todas e não saber o que aconteceu a seguir! Somos incompatíveis darmo-nos tão bem nas palavras, nos gestos, nos voos, nos pensamentos, nas vontades sem destino, nos olhares, nas carícias, na beleza, na profissão, nos conhecimentos, no aprender e no ensinar. Sim, somos incompatíveis por sentirmos e nos mentirmos que somos compatíveis. Desenhaste a linha... e fui contigo! Fechei os olhos e levaste-me. Afoguei-me naquele mar escuro ... não sei nadar. Confiei no momento.
Não sei conquistar! Não te sei conquistar ... Já não sei jogar esse jogo. Desisti.

"Sentir que te conheço, mais que o que penso saber e ser incapaz de te conquistar ... Sentir que te conheço, mas que não consigo dizer-te para ficares ...
Sentir que te reconheci no meio de muitos e não sei explicar o porquê, mas que é em ti que reside o poder de voltar!"

Tenho medo de não o ganhar contigo.

"E se uma só palavra fosse capaz de te abandonar o mal? E se um beijo te fizesse esquecer de que tens medo do escuro e te permitisse sentir as coisas com verdade? E se os anjos de asas brilhantes e os demónios de cornos e cauda não passassem de mentiras e apenas existissem pessoas, pessoas, com coisas boas e más, qualidades e virtudes, mas cm luz, com individualismo, com liberdade, com verdade, com capacidade de rir e de amar, de sonhar e de caminhar? E se tu fosses apenas uma delas, apesar de o negares? Tenho um desafio para ti que quero ganhar contigo. Como posso deixar-me vencer pelo teu passado superior? Como posso eu apagar-te do teu passado e conquistar o teu presente com o meu?! "

As questões foram lançadas. Até tive receio das lançar! Respondeste!...
Fui parva! Eu sei ... A última coisa que queria é que a magia fosse pressão ou um ultimatum inconsciente. Estava atordoada, deliciada com a verdade de coisas inocentes. Desculpa! Pensei que fosse recíproco ... o poder das palavras, das noites na conversa em meio mas ...deixaram-me solta de preocupações e tudo se residiu em vontades do "never ending". Fui ingénua pensar que se colam momentos e os tornamos eternos só porque existe um desejo ... uma sede: a minha e a tua. Agora olho para o teu bonequinho offline no messenger e questiono-me se estarás lá a ver-me a distância... a querer falar apenas comigo. Mas continuas offline... estarás lá? Apenas a observar-me? Sem vontade para me falares como dantes? Estarás efectivamente tão longe como eu penso que estás?! Estarás tu com saudade do que eu sou? E ... como poderias, se não me conheces?! ... se sabes que sou apenas isto, aquilo que escrevo; aquilo que tu vês quando olho para ti.
Fui céu, fui loucura e desejo ... e agora? desilusão?perdição? tentação? conveniência? passado? lamiré? .... incompatível como céu e mar, lua e sol. E sem compreender, dás-me coisas que me assustam, que me derretem. Poderá não ser nada, mas quero tentar ... fecho os olhos e voo de novo como um dia voei até ti, para (re)começar junto a ti .... talvez sem sucesso ... mas estendo-te a mão, traço-te uma linha e abro-te o chão... vens?!
e às vezes ... Também chove ...

'mais que um "acho" imaculado e "despite appearances [and differences], I like you, very much. Just as you are."'

Just me ...

Raquel "



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